Foram necessários 32 anos para que Rick Allen pudesse debutar em um Rock in Rio. Em 1985, às vésperas da primeira edição do festival, o baterista do Def Leppard sofreu um acidente de carro e teve de amputar o braço. A banda foi substituída pelo Whitesnake. Para 100% de nós mortais, seria o fim de sua carreira. Mas Allen, com o apoio dos companheiros de banda e do produtor Robert “Mutt” Lange (AC/DC), decidiu que não desistiria do seu sonho.

Foi essa figura heroica que tocou na noite de domingo (24) no terceiro dia de SP Trip em São Paulo, no Allianz Parque. Três noites antes, Allen fez sua estreia tão aguardada no Rock in Rio. O Def Leppard, uma das minhas bandas favoritas e que com o disco Hysteria de 1987 alcançou o topo da parada mundial – justamente o primeiro álbum com o baterista amputado –, abriu o dia para o Aerosmith.

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Rick Allen do Def Leppard – Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

E foi justamente deste álbum, que completa 30 anos, que vieram a maioria das músicas do repertório da apresentação. Além da faixa título, a melosa e cafona Love Bytes – mais conhecida no Brasil pela versão ainda mais tétrica do Yahoo – Animal e Pour Some Sugar On Me empolgaram os fãs do grupo. Eu mesmo, queria ouvir Photograph, Rock of Ages, Let It Go e Bring On the Heartbreak, que me fizeram verter lágrimas como um adolescente tardio.

Já o Aerosmith é preciso sempre. Steven Tyler é um ET de 69 anos que dá um pau em qualquer vocalista da atualidade. Não importam as roupas espalhafatosas, os exageros vocais. Tyler é o motor da banda. Provoca a todo momento os integrantes da banda. Faz cada um deles render mais do que imaginavam render a esta idade. Quando encontra o monstro sagrado, o guitarrista Joe Perry, a química vista no palco é de emocionar. Faz cair qualquer preceito de que senhores de 70 anos não podem tocar mais rock. Tyler e Perry, mesmo vestidos com os figurinos de Pabblo e Anitta não perderiam a pose. São sobreviventes de uma época de drogas e excessos.

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Steven Tyler – Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Fizeram um show com um repertório previsível agrupando as baladas mais conhecidas do público – este, mais preocupado em gravar o show em vez de aproveitar a sensação de testemunhar essas lendas na frente dos seus olhos e não do visor do celular. De Crazy a insuportável I Don’t Want Miss a Thing, meninos e meninas tiveram tudo do bom e do melhor. Aquele Aerosmith mau dos anos 70 ficou resumido a canções como Sweet Emotion, Mama Kin e a abertura sensacional de Let the Music Do the Talking – que mesmo sendo de 1985, tem toda uma pegada setentista.

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O Aerosmith – Foto: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

A sensação, porém, era de que a qualquer momento o baterista Joey Kramer e o baixista Tom Hamilton poderiam desmontar, tamanho o peso da idade que os dois transmitem. Não fosse Tyler puxando os dois para cima a todo momento, seria impossível imaginar a cozinha do Aerosmith em cima de um palco. Homens como Steven Tyler, Joe Perry e Rick Allen são raros no mundo. Estarem juntos na mesma noite em São Paulo é quase como um milagre. Sorte de quem teve a oportunidade de assistir.

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