Fomos bombardeados desde a tenra infância com finais felizes. Em filmes, na TV, nas histórias para dormir. Não bastasse todo esse embuste vindo de Hollywood e cia. em formato de comédias românticas cheia de emojis sorridentes, hoje ainda contamos com o Instagram, que cumpre o papel de transformar qualquer vida pica mole numa orgia regada a Viagra e Cialis.

Eu mesmo era viciado em comédias românticas. A partir daquele referencial só queria enxergar um relacionamento leve, divertido e cheio de corações flutuando enquanto o Kenny G. (?!)tocava seu sax cafona de fundo.

Mesmo descobrindo o cineasta Billy Wilder logo cedo — que trazia temas pesados sobre a relação humana embalados em leveza —, preferi acreditar que a partir do momento em que entrasse num relacionamento duradouro minha vida entraria no modo TOP.  Que os discos do Nick Drake não fariam mais sentido e os problemas seriam deixados para trás. Mas que besta humana eu era.

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Se relacionar — e consequentemente casar, no papel ou não — é firmar um compromisso com uma pessoa independentemente do estado de humor dela. É saber que assim como a nossa vidinha meia boca, o relacionamento tem tantos momentos bons como ruins. Às vezes até mais ruins. E tudo bem, porra.  Você não é a exceção e ninguém está tramando um plano contra você. Quem disse que a gente está no mundo para ficar sorrindo o dia todo como se tivesse levado uma overdose de botox na fuça. Não dá para viver numa bolha com cheiro de rosas e o filme Amelie Poulan passando no repeat.

Eu mesmo sofro de depressão — assunto para um outro post — e tenho consciência que estou longe de ser a pessoa mais fácil de se relacionar. Mas com dois casamentos nas costas, brigas, separações, um filho morando em outra casa, decidi encarar há algum tempo as intempéries de uma relação como algo do dia a dia. Enquanto houver diálogo e respeito, é possível estabelecer um contrato.

Por mais filmes reais e menos relacionamentos de conto de fadas

A cineasta Laís Bodanzky decidiu contar a verdade dos relacionamentos no ótimo Como Nossos Pais, que está em cartaz nos cinemas. O filme traz a história de uma mãe (Maria Ribeiro), que além do trabalho, precisa cuidar das duas filhas, da mãe doente e ainda organizar a casa, já que o maridão (Paulinho Vilhena) faz trabalho voluntário — que inclui o sexo com a assistente — na Amazônia. O argumento não é feliz, mas é real.

Quanto mais idealizarmos que os relacionamentos estão para a humanidade como o paraíso está para os mortos, estaremos sempre nos frustrando e procurando em outra pessoa as mesmas características fantasiosas que não encontramos na anterior. A geração millenium quer fazer tudo à sua maneira. A chance de quebrarem a cara é ainda maior. As frustrações são necessárias para se formar caráter.

Mais do que amor, sexo bom, dinheiro e honestidade, para se casar é preciso ter coragem. Coragem de levar a relação adiante. E coragem também para dizer não, caso  você não veja condições de mudar a sua vida pela outra pessoa.  Oscar Wilde escreveu uma vez. “O casamento é o fim do romance e o começo da história.” E tá errado?

 

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