Tenho assistido ao Rock in Rio do sofá de casa. Não, não sou daqueles críticos pau no cu do Facebook que a cada desafinada ou movimento errado de um artista querem lacrar com seus textículos na rede social – mesmo ao assistir ao Cidade Negra eu fiquei quieto.

Observo como se o que eu vejo na TV fosse a continuação de uma história que começou em 1985, época em que o festival moldou meu caráter e me fez virar jornalista especializado em música. OK, olhando pra trás hoje eu deveria odiar o festival. Afinal, a crítica musical já tá na base da morfina há anos e tem praticamente a relevância de um twitter do PC Siqueira.

Eu sei que, hoje, o festival não é feito pra um cara como eu: mais de 40 anos (corpinho de 50) e que assistiu profissionalmente a todos os shows que gostaria de ter testemunhado. Não tenho mais saco pra ficar me apertando com a molecada bêbada disputando um espaço na pista. Não tenho saco pra ficar com uma porrada de celular na minha cara enquanto o artista está lá na sua frente ao vivo. Não tenho saco para conversas alheias à música que está tocando. Sempre saio desses festivais gigantescos com a frase “é o último”. Pra resumir: tenho pouco saco.

Para os dinossauros como eu, sair de casa precisa ter a equação “local perto, bom som, estrutura bacana, ser cedo”. Eu falei que tenho saco pra pouca coisa, não falei? O festival SP Trip traz quase todas essas equações. Seria perfeito se após o show eu tivesse um teletransportador pra minha casa.

Na quinta-feira, tive a oportunidade de assistir aos shows do Cult e do The Who do camarote. A experiência, com massagem, comida, maquiagem (!) e ar-condicionado é quase como se estar em casa no sofá, mas com um telão e um som muito mais volumosos. Se eu fosse moleque ia achar um puta saco. Pra mim estava perfeito. Engraçado é que com um povo acima de 40 anos na sua maioria, eu pouco vi os irritantes celulares na pista.

Hoje, no domingo e na terça ainda vou testemunhar pela enésima vez Bon Jovi, Aerosmith, Def Leppard, Alice Cooper e Guns N’Roses da pista do SP Trip. Talvez eu reclame dos celulares e das selfies, da muvuca (ainda se fala muvuca?), do povo bêbado, da galerinha conversando sobre outro assunto que não a música.

Mas essas bandas são da minha época, né? Quando a música era MUITO me… Tá, eu adoraria assistir ao show da Lady Gaga. Mas também adoraria ter assistido aos Tias Fofinhas (Tears For Fears), banda da época que… você entendeu. Tamo junto. Eu no sofá ou longe da confusão na pista e você lá na grade, que foi minha companheira por anos e anos. Dá um oi pra ela por mim. E guarda essa porra de celular no bolso.