Não é necessário uma pesquisa e dados que comprovem que nas novelas brasileiras,  em Hollywood ou na música pop o papel de galã sempre esteve reservado para um homem ou uma mulher branca. Se for loiro e de olhos claros, maior a chance de garantir esse papel.

E não precisa ser exatamente bonito para isso. Uma olhada em fotos antigas de gente como Nick Carter, Vinny, Justin Timberlake ou Guilherme Fontes prova o que racistas insistem em não enxergar: que existe sim o privilégio branco.

Apenas isso explica de maneira resumida como a indústria cultural vendeu desde sempre o estereótipo eurocêntrico caucasiano como ideal de beleza a ser atingido.

No cinema e na TV, o papel do negro foi quase sempre o de personagem servil ou marginalizado. Dessa maneira, a pele escura quase nunca está inserida em uma posição de destaque e protagonismo.

Marcello Melo Jr., Rafael Zulu e Ícaro Silva jamais serão escalados para os principais papéis das novelas ou peças publicitárias por aqui.

Mesmo que eles provem ser melhores profissionais e mais bonitos que atores brancos como os irmãos Simas, Klebber Toledo ou os irmãs Vitti, não há espaço para que eles sejam modelo de beleza nas telas brasileiras.


O que, no entanto, beira o absurdo. Com 54% dos habitantes se autodeclarando negros, a TV do Brasil nem parece que é a de um país da América do Sul. Há tantos brancos na apresentação de programas, bancadas de telejornais, filmes e novelas, que as emissoras parecem que estão transmitindo diretamente de Amsterdã. Se bobear, até na Holanda há mais negros em posição de destaque na mídia do que aqui.

Na música, esse problema é mais sutil. Afinal, não há música pop sem música negra, seja aqui ou nos Estados Unidos. Mas no que diz respeito a ídolos teens que são modelos de beleza na indústria fonográfica, a coisa segue o mesmo padrão.

Uma olhada nas capas da Capricho e fica claro que, mesmo com todo o sucesso que tiveram entre os adolescentes, artistas como Alexandre Pires, Usher, Nelly, Drake e Criolo jamais seriam escolhidos como os galãs da vez no lugar de gente de diagramação questionável como o Felipe Dylon, Luan Santana, Justin Bieber ou já citado Nick Carter.

O dia da Consciência Negra serve, entre tantas outras causas mais urgentes, para questionar também o padrão de beleza propagado pela indústria cultural, que tanto normatiza o branco como belo.

As coisas mudaram? Aos poucos, sim. Mas há muito a ser feito nesse sentido, já que a proporção de negros na TV ainda é desproporcional se comparado à quantidade de negros na sociedade como um todo.

É preciso reconhecer que até agora fomos sim racistas e que fingimos viver em uma sociedade branca que nada tem a ver com que o presenciamos nas ruas e com a nossa cultura. A questão da representatividade importa, inclusive na diminuição do racismo e na aceitação. Não é possível achar natural que em mais de meio século de TV nacional, não exista quase nenhum protagonista negro.