Em uma de suas últimas entrevistas pouco antes de morrer em 2016, o escritor italiano Humberto Eco, aos 84 anos, alertou que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Não poderia estar mais correto.

O que testemunhamos como página é uma necessidade improtelável de uma grande parte dos seres digitais de se fazer notar a qualquer custo. Há uma fome sem fim de gritar cada vez mais altos nos comentários, mesmo que estes sejam carregados de ódio e burrice.

Nas últimas semanas tivemos dois exemplos que me fizeram pensar sobre o nosso papel como página. E o quanto devemos incluir em nossa pauta temas que fogem do assunto estética masculina, ponto inicial quando a página começou no Facebook há mais de um ano. Pois é, há mais de um ano estávamos lá falando de Rodrigo Simas, Ricardo Lombardi e cia. Hoje, 600 mil curtidas no Facebook depois, um site, canal de YouTube e Instagram, continuamos priorizando este assunto principal, com o nosso DNA, de velhos e novos personagens. Mas não vamos deixar de cutucar aquilo que achamos injusto e opressor  e que principalmente case com a nossa pauta diária. Sempre com a nossa cara de pau, humor e linguagem.

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Alguns comentários num post que citamos a polêmica do MAM nos questionava sobre a página sair do assunto principal. Oras, e desde quando o humor não pode ser usado para desconstruir e alertar para temas do cotidiano. O genial Chico Anysio tinha uma frase certeira:  “O humor não tem o poder de consertar nada, mas o dever de denunciar tudo”. Seguimos nessa direção. E mesmo quando ultrapassamos o limite – pois é, também erramos, mudamos de opinião  –, tomamos ciência da situação e analisamos se devemos ou não continuar a tocar em determinados assuntos. Adoramos mudar de opinião.

Foi assim com o post que escrevi sobre o fundador da Playboy, Hugh Hefner, no momento da morte dele. Trabalhei na revista e passei a minha visão de dentro da revista, quando viajei, escrevi sobre drinks, cultura pop e entrevistei personagens incríveis como Marcelo Rezende e um dos maiores astros da história do pornô norte-americano, Ron Jeremy.

A partir daquele texto viramos “defensores da cultura do estupro”. Não há na cabeça de quem quer “lacrar” um recorte, contexto ou ponderação. OK, foi importante entender que Hugh Hefner não deveria entrar na nossa página, mesmo naquela situação. Mas aí ter de ler atrocidades como a citada acima fugiu completamente da nossa realidade. Você não entra na casa de uma pessoa e começa a atirar e vomitar palavras de ódio contra ela sem antes pedir licença.

Eu, pelo menos, se não gosto do conteúdo de uma página, não a sigo, não comento. Se acho ofensivo, denuncio. Talvez porque prefira escutar opiniões contrárias as minhas de pessoas com embasamento crítico e histórico. Talvez porque tenha mais o que fazer. Recomendo a essas pessoas belicosas ler livros, andar na rua, visitar o MAM, o Masp, ir ao cinema, assistir ao Conversa com Bial. Apaguei o post. Fui ler um livro em vez de querer gastar energia com quem não merece. É possível ser mais doce e humano com opiniões contrárias.

Uma pesquisa atual da Fecomercio sobre os hábitos culturais dos brasileiros mostra que 92,5% não costumam ir a exposição de arte. 88,6% não frequenta teatro. E mais de 70% não leem livros nem vai ao cinema. O analfabetismo funcional atinge boa parte da população. Uma amiga definiu numa frase a crise cultural e de valores que passamos: “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância”. Triste Brasil. Salve-se quem puder. Nós vamos seguindo. Sem perder a ternura e muito menos o humor.  #PAS